Uma das escolhas mais felizes do grande soberano inglês Henrique II foi a do seu chanceler, na pessoa de Tomás Becket, nascido em Londres de pai normando pelo ano de 1177, e ordenado arcediago e colaborador do arcebispo de Canterbury, Teobaldo. Na qualidade de chanceler do reino, Tomás sentia-se perfeitamente à vontade: possuía ambição, audácia, beleza e gosto. Conforme as circunstâncias sabia ser corajoso, particularmente quando se tratava de defender os bons direitos do seu príncipe, do qual era íntimo amigo e companheiro nos momentos de distracção e divertimento.
O arcebispo Teobaldo morreu em 1161 e Henrique II, graças ao privilégio dado pelo papa, pôde escolher Tomás como sucessor à sede primaz de Canterbury. Ninguém, e muito menos o rei, podia prever que a um personagem, tão comentado se transformaria, subitamente, num grande defensor dos direitos da Igreja e num zeloso pastor de almas. Mas Tomás já havia avisado o rei: “Senhor, se Deus permitir que eu me torne arcebispo de Canterbury, perderei a amizade de Vossa Majestade.”
Ordenado sacerdote a 3 de Julho de 1162 e consagrado bispo um dia depois, Tomás Becket não tardou a indispor-se com o soberano. As Constituições de Claredon de 1164 tinham actualizado certos direitos régios e abusivos e já em desuso. Tomás Becket negou-se por isso e reconhecer as novas leis e escapou da ira do rei fugindo para a França, onde ficou seis anos no exílio, levando vida ascética num mosteiro cisterciense.
Estabelecida com o rei uma paz formal, graças aos conselhos de moderação do papa Alexandre III, com quem se encontrou, Tomás pôde voltar a Canterbury, acolhido triunfalmente pelos fiéis, aos quais saudou com estas palavras: “Voltei para morrer no meio de vós”. Como primeiro acto repudiou os bispos que haviam feito pacto com o rei, aceitando as Constituições, e o rei, desta vez, perdeu a paciência, deixando escapar esta frase: “Quem me livrará deste padre briguento?” Houve quem se encarregasse disso. Quatro cavaleiros armados foram para Canterbury. O arcebispo foi avisado, mas ficou no seu lugar: “O medo da morte não deve fazer-nos perder de vista a justiça.” Recebeu os sicários do rei na catedral, vestido com os paramentos sagrados.
Deixou-se apunhalar sem opor resistência, murmurando: “Aceito a morte pelo nome de Jesus e pela Igreja”. Era o dia 23 de Dezembro de 1170. Três anos depois o papa Alexandre III inscreveu-o no álbum dos santos.
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