sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Santa Ângela de Foligno, Viúva



04 de janeiro - Santa Ângela de Foligno

De família abastada, foi casada e teve vários filhos. Entregou-se às vaidades do mundo até que, ficando viúva e tendo perdido sucessivamente os filhos, converteu-se, ingressou na Ordem Terceira de São Francisco e passou a levar vida de penitência. É considerada uma das maiores místicas da História da Igreja.



Nascida em Folígno, na Itália, Ângela era filha de pais nobres, e deles recebeu aprimorada educação. De beleza não comum, de maneiras afáveis, Ângela, bem nova ainda, contraiu núpcias com um cavalheiro distintíssimo de sua terra. Abençoada de prole numerosa, não lhe faltaram os cuidados múltiplos de mãe de família; mas tempo bastante lhe sobrava para dedicar-se a caprichos de vaidade, a festas e divertimentos de toda a sorte. Esta mudança no pensar e proceder da filha era objeto de sérias apreensões da parte dos pais, que não perderam ocasião de mostrar a Ângela a inconveniência de sua conduta.
Debalde foram esses esforços e as admoestações dos pais. Ângela contrapunha as exigências de sua posição, a que entendia dever sacrificar as aspirações religiosas.

Não obstante, os conselhos paternais não perderam de todo valor. Ângela, que a princípio tanto amor manifestava às coisas frívolas deste mundo, mais tarde confessou: “Descontente de mim mesma, comecei a pensar seriamente em minha vida. Deus fez-me conhecer os meus pecados, e minha alma encheu-se de pavor, prevendo a possibilidade de minha condenação; tamanha era minha vergonha, que não achei coragem de confessar todos os pecados, do que resultou que diversas vezes recebi os santos Sacramentos sacrilegamente. Vi minha consciência atormentada dia e noite. Pedi a Nossa Senhora, que me conduzisse a um sacerdote esclarecido, ao qual pudesse fazer minha confissão geral. Esta oração foi ouvida: não senti, porém, nenhum amor a Deus, mas tanto mais arrependimento, dor e vergonha dos meus pecados”.
Feita a conversão, Ângela ficou firme nas resoluções e fiel no cumprimento dos deveres.
Esta constância mereceu-lhe ainda graças preciosíssimas: a de um grande e perseverante arrependimento dos pecados e uma devoção terníssima à Sagrada Paixão e Morte de Jesus Cristo.
Embora se lhe tornasse difícil, ajudada pelo auxílio da graça divina, Ângela modificou radicalmente a vida. Antes tão ávida de diversões, procurou em seguida os doces e suaves prazeres do lar; antes vaidosa e opulenta, dispôs das jóias, transformando-as em ricas esmolas; antes dissipada, tornou-se amantes do recolhimento e da meditação.
“Tudo isto – ela mesma confessou – me era extremamente difícil; faltava-me ainda o doce consolo do amor de Deus, que suaviza as coisas mais difíceis; era obrigação minha agradar a meu esposo e tomar em consideração os deveres do meu estado, por maior que fosse minha vontade de abandonar tudo e morrer a mim mesma”.

Estava determinado nos planos de Deus que, com prazo de poucos intervalos, Ângela perdesse o marido e todos os filhos.

Indivisível lhe era o sofrimento. A graça de Deus, porém, preparando assim para Ângela o caminho da perfeição, fez cicatrizar também estas feridas.

Ângela, livre de todos os laços que a prendiam à terra, santificou sua viuvez ao pé do crucifixo, fazendo o voto de castidade e pobreza e pediu admissão na Ordem Terceira de São Francisco.
A vaidade, a sensualidade, a febre do desejo de agradar aos homens, deram lugar à humildade, à mortificação e ao amor de Jesus Crucificado. A devoção à sagrada Paixão e Morte de Nosso Senhor tomou-lhe posse da alma e de todas as aspirações. Na meditação dos sofrimentos do Homem-Deus achou paz e consolo.

Jesus distingui-a com aparições e fê-la participar da cruz. Grandes eram os seus sofrimentos corporais e espirituais; de todos o maior era uma contínua perseguição diabólica.
O demônio, apresentando-lhe continuamente ao espírito a vida pecaminosa de outrora, queria arrancar-lhe a fé na misericórdia divina, no valor de suas obras de penitência e importunava-a com tentações as mais terríveis contra a santa pureza, tanto que ângela mesma confessa:
“Seria mais tolerável para mim sofrer todas as dores, suportar as torturas mais horrorosas dos mártires, que me ver exposta às tentações diabólicas contra a pureza”.

A oração e as obras de caridade foram as armas com que venceu nesta luta tremenda.
Quotidiana era sua visita aos pobres doentes no hospital, aos quais, além de esmola espiritual, levava também o socorro material, ganhando assim as almas para Jesus Cristo.

Assim correu a vida de Santa Ângela, até o dia em que Deus a chamou para a eterna recompensa. No dia que lhe precedeu a morte, sentiu-se livre de todas as dores e tentações e uma felicidade celestial inundou-lhe a alma. Nesta disposição recebeu os santos sacramentos, e entrou no reino da glória, no dia da oitava da Festa dos Inocentes, conforme tinha profetizado. O Papa Inocêncio XII inseriu-lhe o nome no catálogo dos santos da Igreja.
Reflexões:
Santa Ângela é uma daquelas Santas de que não se pode absolutamente dizer que nasceram santas.
Apesar da grande felicidade de ter bons pais, que vigiavam pela educação moral e intelectual da filha, esta se deixou levar pelas influências más do mundo, que não é de Deus.
Bastante se afastou do caminho da virtude, chegando ao ponto de não ter mais coragem de fazer boa confissão e neste estado comungou sacrilegamente.
É possível que uma alma chegue a este ponto? Possível é, e muitos são aqueles, em cuja vida se dá coisa semelhante. Não fosse a misericórdia divina, a qual, aproveitando-se de mil circunstâncias, às vezes as mais insignificantes, oferece auxílio à alma caída, esta não mais se levantaria da sua miséria.

Em Santa Ângela foi o temor do inferno, que a fez voltar. Apoderou-se da sua alma um temor tal da justiça divina, que, seguindo o conselho de Nosso Senhor preferiu cortar a mão, o pé, arrancar o olho que lhe serviam de pecado e fez penitência. – “Lembra-te dos teus novíssimos e não cairás em pecado”, diz o Espírito Santo.
Não imites a pecadora Ângela no seu mau procedimento, mas, se tiveste a infelicidade de cair, toma-a por modelo na penitência, na atitude enérgica de fazer penitência. Boa vontade é que Nosso Senhor quer ver também no pecador. Desde que a alma infeliz a possua, não tardará o perdão divino, e com este volta a paz e tranqüilidade do espírito.

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