quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

A infância do Papai Noel


Na ocasião do aniversário de sete anos de Nicolau, que mais tarde seria declarado santo e seria chamado de pai do natal (ou Papai Noel), seus pais organizaram uma grande festa, todos os nobres de Patara e das cidades vizinhas foram convidados.
Reunidas em sua própria mesa, as crianças começaram uma discussão sobre qual era o pão mais gostoso:
- O pão com azeitonas pretas de Atenas,sem dúvida, é a melhor iguaria do mundo! – começou a falar Geraldo, um garoto de 12 anos, filho de um importante nobre, dono de metade das embarcações de Patara – Os marinheiros de meu pai não falam de outra coisa, animam-se quando vão à Grécia, somente por causa desse pão.
- Ora, mas quem disse que marinheiros têm gosto refinado? Vivem em barcos úmidos e sujos, alimentam-se mal durante semanas, quando descem em um porto, qualquer refeição simples lhes parece um banquete – disse Cícero, garoto de 10 anos, filho do prefeito de Patara – Meu pai, o governante dessa cidade, sentou-se muitas vezes na mesa do Imperador e me disse que seu pão preferido é feito com o trigo dos campos de Roma, assado com pedaços de lombo. É um pão que faz todos os governantes do mundo salivarem ao sentir seu aroma.
- Vocês estão esquecendo que somos crianças – disse Diana, filha do sacerdote mais eminente de Patara – e o que é gostoso para nós são os doces. Nada se compara ao pão com mel do Líbano. Muito melhor do que a gordura do lombo ou o gosto amargo da azeitona é a doçura do mel.
As crianças estavam divididas, os filhos dos mercadores marítimos, nobres de Patara, apoivam Geraldo, os filhos dos nobres que vieram de outras cidades apoiavam Cícero e os filhos dos comerciantes, que não eram nobres, apoiavam Diana.
Como a discussão não parecia ter fim resolveram que a opinião de Nicolau decidiria o conflito, já que era o dono da festa.
- Nicolau, qual é o pão mais gostoso? – perguntou Geraldo.
Todos ficaram em silêncio e olharam para o aniversariante.
- O pão mais gostoso é o pão dividido – respondeu Nicolau.
As crianças continuaram em silêncio, não sabiam ao certo o que pensar da resposta.
- Entendi – disse Cícero – o pão dividido é aquele conquistado pela guerra, através da bravura, a coragem do guerreio! Pensas como um verdadeiro nobre, Nicolau.
- Não foi isso que eu quis dizer...
- Claro que não – disse Diana – o pão dividido é aquele que não nasceu pronto, mas que é partido, aberto para que possamos colocar o recheio que quisermos. Para Nicolau, o berço do pão não importa.
- Também não foi isso que eu quis dizer...
- O que quis dizer então? – perguntou Geraldo.
- Vou mostrar – respondeu Nicolau, reunindo todos os pães da mesa em vários cestos – venham comigo!
Saíram da propriedade e começaram a caminhar pelas ruas de Patara, Nicolau e cerca de quinze crianças, cada uma com seu cesto de pães. Era inverno, em muitas esquinas existiam desabrigados, aquecendo-se em fogueiras.
Nicolau, observado pelas crianças, parou, dividiu seus pães com os desbrigados, sentou-se e comeu com eles, puxou um coro de uma canção conhecida de Patara. Os mendigos cantaram alegremente e agradeceram.
Na primeira esquina as crianças ficaram chocadas. Não entenderam porque Nicolau queria ficar perto das pessoas que eles mais desprezavam no mundo. Aos poucos, porém, observando a gratidão nos olhos e nos gestos daquelas pessoas, por conta de uma necessidade tão básica que há tanto tempo que não era satisfeita, começaram a participar daquela comunhão. Na quinta esquina que visitaram todos choraram ao cantar com os desabrigados.
- Amanhã trarei roupas – disse Diana.
- Amanhã trarei cobertores – disse Geraldo.
- Amanhã trarei pães que se tornarão os mais gostosos do mundo, no momento em que forem divididos com meus novos irmãos – disse Cícero.
Todos olharam para Nicolau, que apenas sorriu. Sentiram que estavam na presença de um santo. Realmente estavam, mas não sabiam. Assim Nicolau inventou a festa do natal, todos os dias da sua vida foram o natal de alguém.

Texto de Paulo Quaresma Neto

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